sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Só mais uma

Ela quer voar, mas tem arrepios
Ela não sabe identificar o medo em sua voz
Não enquanto chora de angústia.
Ela pode correr entre sorrisos,
Mas não quer, não sabe que precisa...
Ela quer voar.
Ela quer ser forte, indomável
Quer fugir da dor do mundo,
Fugir dos traços tristes de sua vida.
Ela não quer correr, ela quer voar.
Voar bem alto, por cima de todos.
Ela não sabe identificar o egoísmo do seu sonho...
Só quer voar.
Ela observa as asas alheias batendo
Vê a alegria até no olhar das borboletas menores.
Ela vê o brilho na inocência das menos bonitas,
Vê a felicidade no olhar do cego.
Mas nada importa, porque ela quer voar.
Ela quer ser livre.
Abre as asas, sente o vento em seu nariz,
Brinca de ser grande.
Ela se imagina bonita, segura, madura.
Luta contra o mundo,
Destrói tudo, atravessa os obstáculos
Causa a erosão das pedras no caminho.
Nada no ar para ser mais ágil,
Pula, corre.... Mas não voa.
E não desiste.
Ela corre, anda, corre,
E para.
Para, e se depara
Com um par de olhos tão tristes quanto os dela.
Ela enxerga a mágoa e a dor nos seus olhos negros,
Olhos absolutamente negros e misteriosos a sua frente.
E olha pras asas.
O dono dos olhos tem asas.
Tem asas, mas não liga pra elas.
Ela sabe voar! Ah, pode voar alto, bem alto...
E mesmo assim é triste.
Ela vê seus punhos apertados,
Seus lábios contraídos, seus joelhos tensos
Sua pele ressecada, e ouve.
Ouve sua voz rouca pronunciar palavras que,
Mesmo tristes, soavam como música.
Era algo inexplicável
Cada som que ele emitia era a resposta
Para todas as suas perguntas...
Quase todas.
Havia uma que há muito tempo
Ela ansiava em perguntar...
Mas tinha medo.
Tinha medo da resposta.
E como sempre, mesmo sem perguntas
Ele a respondeu
E fez levitar
Ela enfim pode bater suas asas
Sentir que seus pés não estavam mais no chão
E sua asa agora se movia com facilidade
Seu rosto se contorcia e formava um sorriso
E de longe ela podia ver
A alegria nos olhos negros
Pela primeira vez
Os olhos sorriram
Ela observava intensamente o olhar pouco distante
E sentia o vento em seu corpo
Ouvia o barulho das asas...
E chorava
Chorava de alegria
Enquanto aos poucos seu corpo se imobilizava
Seu coração
Ficava mais lento
Sua boca mais seca
E suas asas mais lentas
Até cair
E as pálpebras dos seus olhos
Fecharem lentamente.
Apesar de tudo
Ela ainda era
Só mais uma borboleta.

Um comentário:

  1. EU (chapolin colorado)15 de outubro de 2011 às 17:11

    WOW...... profundo...Unica coisa que eu quero ver é a borboleta voar... já que tem asas mas ainda está reciosa....... -.-

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